Estilo: entre a marca da reprodutividade técnica e a busca da individualidade
O estilo para Adorno não seria mais do que uma padronização, a fôrma da linha de produção da indústria cultural, e não é difícil com ele concordar ao vermos quantos Romeros Britos existem pelo mundo, qual máquinas, estampando os mais variados produtos, de latas de panetones a paredes de hospital.
Se nos contrapormos a reificação do artista, precisamos retomar a questão e talvez Bauman nos dê algum subsídio. Para ele a busca pela individualidade - tão aclamada em uma sociedade individualista - seria um processo dialético: enquanto a pessoa procura seu traço de unicidade não pode perder de vista o que a liga ao grupo de referência. Neste contexto o estilo poderia ser o resultado, ou processo, dado que há muitos estilos de transição, desta auto-definição.
A hermeticidade de um artista se poderia explicar, então, por sua inclinação à busca do pessoal, enquanto o excesso de aderência ao público-consumidor, que muitas vezes se converte na sensação do lugar-comum (não importa o que Romero Brito considere importante retratar, isso sempre ficará esquecido no meio das cores fortes, contornos pretos e recortes já conhecidos) representaria o contrário, o medo de não ser reconhecido como único.
Mas e se as duas linhas de pensamento se misturarem? Se o estilo for mesmo uma etiqueta da indústria cultural, marcar um segmento de mercado, mas nem por isso excluir de seu universo a busca pela individualidade, ou melhor, uma "ficção de busca", que seria uma das forças que impulsiona esse sistema. De modo que o artista julga procurar seu estilo, consciente da empreitada ou não, mas não consegue fugir muito do que o público está apto a ouvir e chancelar em um determinado momento histórico, em um processo de retroalimentação de informações e mercadorias, e aquele que não é bem sucedido dentro dessa teoria pode se ver preso, seja fora do tempo, até chegar a época em que ele possa ser compreendido, ou dentro de si.
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